O Relógio
- elisapsclg
- 16 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Entro em meu consultório para mais um dia de atendimento. Chego um pouco
atrasada, ligo computador como de costume, checo a agenda e ouço bater na
porta.
Recebo meu primeiro cliente do dia, a sessão se desenrola, e em um dado
momento percebo que perdi a noção do tempo, checo com olhar as horas em
meu relógio que fica estrategicamente posicionado pra me dar norte de tempo.
Neste momento, percebo que o danado estava parado, não podia me fornecer
aquilo que eu tanto precisava naquele momento, neste instante bateu aquela
raiva, misturada com frustração, pensei: Como assim, na hora em que eu mais
preciso ele falha em sua função??? preciso trocar este relógio. Encerro a
sessão, volto meu olhar para ele e me dou conta que ele pra funcionar, precisa
de mim, precisa que eu lhe de corda, afinal escolhi um relógio antigo, que
apesar de lindo, não faz seu trabalho sozinho é analógico.
A partir dai comecei uma reflexão ... Como estamos habituados com as coisas
prontas, vivendo numa era digital, nossas necessidades estão sendo sanadas
sem nenhum custo de resposta, ou seja, sem que tenhamos que fazer nada
por isso, e o problema maior é que estamos generalizando este comodismo pra
outras áreas de nossas vidas. Por exemplo, é muito comum em nossas
relações pessoais, sejam elas quais forem, esperar que o outro esteja pronto
pra mim, que faça coisas por mim, que entregue aquilo que eu preciso a tempo
e a hora.
Mas será que eu tenho dado “corda” pra que tudo possa funcionar?
Estou fazendo minha parte? Ou só exigindo que as coisas aconteçam?
A corda do humano passa por uma palavra de agradecimento, pela atenção
genuína dada em uma conversa, em ter paciência em dar explicações onde
ainda se tem dúvida... Essas ações poderiam engrandecer nossos
relacionamentos, mas estamos desaprendendo o básico, resultado... vivemos
sempre frustrados uns com os outros e até com a gente mesmo. Ao menor
sinal de frustração, bate aquela raiva não é verdade? vontade de mandar tudo
pro alto... Pois é, mas, mal sabemos que estamos perdendo a oportunidade de
fazer uma autorreflexão para compreender “qual seria minha parte naquele
todo?”
Por isso continuo com meu relógio, é ele que me fornece todos os dias, não
só as horas, mas mantém minha consciência de que estamos em interação
constante, e para as coisas acontecerem eu preciso estar lá fazendo.

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